sábado, 27 de outubro de 2007

Capa Revista Estilo de Vida Gloria Pires










Tempos de glória
Estrela de um tipo raro, Gloria Pires conjuga carisma, talento e beleza de maneira única. Depois de um período em que se dedicou apenas à vida pessoal, a atriz volta a brilhar, irradiando uma luz ainda mais forte.
Ana Cristina Gonçalves

Os três anos passados longe do público só serviram para aumentar ainda mais a expectativa do seu retorno às telas. E ela não decepcionou. Voltou mais - com o perdão do trocadilho, nesse caso merecidíssimo - gloriosa do que nunca. O sabático prolongado definitivamente não abalou o título de uma das maiores estrelas da televisão e do cinema. Daniel Filho, um dos responsáveis pela retomada ao convencê-la a protagonizar a comédia Se Eu Fosse Você - que estréia este mês nos cinemas -, diz que ela nasceu com a marca do talento na testa. Gilberto Braga gosta de compará-la à superlativa Fernanda Montenegro. Silvio de Abreu, o autor de Belíssima, afirma que poucas atrizes conseguem passar tanta veracidade às personagens que interpretam e que por isso criou Júlia especialmente para ela. Tratada com admiração pelos colegas, pela crítica e pelos fãs, Gloria Pires minimiza a condição de diva. "Essa coisa de ser unanimidade pode ser lisonjeira, mas não é muito confortável nem muito justa", diz. Será que Nelson Rodrigues - que criou a frase "toda unanimidade é burra" - tem algo a ver com isso? "Não. Polêmica nunca foi o meu forte. Adoro receber o carinho das pessoas e quanto mais melhor. Só que sei que o sucesso de um trabalho não depende só de mim. Por mais que um ator seja bacana, seu trabalho faz parte de um conjunto", diz. Então fica combinado que para Gloria é melhor usar outra frase célebre que o dramaturgo, embora não fosse seu autor, gostava de usar. A atriz, assim como o futebol, é uma caixinha de surpresas. Não daquelas que causam sobressaltos e sim do tipo capaz de provocar prazeres inesperados. Uma delas - a capacidade de administrar situações aparentemente inconciliáveis - ficou plenamente demonstrada no dia desta entrevista. Era um dia quente de dezembro e Gloria, em vez de aproveitar sua única folga semanal para descansar, como a maioria das pessoas faria, decidiu atender a três solicitações de jornais e revistas. Ao trânsito sobrecarregado típico do final de ano somaram-se pequenos imprevistos que fizeram com que um compromisso postergasse o outro. Mas, como estava tudo combinado, fez questão de manter a palavra inicial e não cancelar nenhum deles.Eram quase 10 horas da noite quando chegou ao estúdio. Sorridente, desculpou-se pelo atraso, experimentou as roupas que seriam usadas no ensaio fotográfico, conversou com o maquiador. Estava cansada, mas atenta. Pediu apenas para comer uma maçã e, pronto, seus olhos enormes se reacenderam. "Estava com saudade de atuar", conta. "Foi importante para mim ter passado esse tempo afastada, porém já era tempo de voltar", diz, referindo-se ao período em que viveu com a família em Goiânia. Ela define a parada voluntária como uma "temporada no paraíso". "Imagine viver num lugar sem estresse, sem engarrafamento ou poluição. E o que você me diz de poder tirar uma soneca à tarde?", indaga. Mas o que mais importou foi poder se dedicar integralmente à família. "Levava as crianças à escola, era uma mãe full time. Quando Bento nasceu, cumpri 40 dias de resguardo, como nossas avós faziam. Falo isso para minhas amigas e elas não acreditam", afirma. Foi lá que intensificou o ritual de reunir o clã todas as quartas-feiras para um culto religioso com leituras do Evangelho seguidas de orações. "Rezo todos os dias. Não costumo ir à igreja, mas se estiver passando na porta de uma e sentir vontade, paro o carro e entro na mesma hora", explica. Aos 42 anos, se orgulha por ter quatro herdeiros nascidos em fases superdistintas: Cléo, 23, Antonia, 13, Ana, 5, e Bento, 1. "Muita gente acha que sou maluca, mas discordo. A gente sempre aprende com os filhos. Eles nos obrigam a ver a vida de outra maneira, nos fazem repensar certas posturas", afirma. Com cada um se permite um prazer diferente: embala o caçula na hora de dormir, acorda cedo para pentear os cabelos de Ana antes de ela ir para a escola, ajuda Antonia em seus questionamentos de adolescente, assiste com inegável prazer ao sucesso de Cléo, encarando com naturalidade o fato de a primogênita ter escolhido a mesma profissão que ela. "Está no sangue de nossa família. Meu pai [o comediante Antônio Carlos, falecido no ano passado] me levou a um estúdio pela primeira vez quando eu tinha 4 anos. Essa cena é muito nítida na minha memória", conta. O assunto a entusiasma. "Desde pequena sonhava com quatro crianças. Mas depois que a Cléo nasceu quase desisti desse projeto. Ela é fruto de um relacionamento [com o ator e cantor Fábio Jr.] muito difícil. Quando você sofre demais, fica com uma carcaça, cria um calo, põe um escudo - não sei bem como definir. Foi doloroso romper aquilo", revela. "Só mesmo um aquariano para conseguir isso." É para o marido, o músico Orlando Morais, que ela reserva as palavras mais doces sem medo de parecer piegas. "O Orlando trouxe muita poesia, muita coisa incrível para minha vida. De cara, me ensinou que eu não precisava me sentir culpada por ter uma carreira bem-sucedida. Além, é claro, de ter me dado as crianças e também de ser um ótimo pai para Cléo. Se não o tivesse conhecido, minha vida não teria tido muita graça." Juntos há 18 anos, formam um dos pares mais duradouros do meio artístico. "Detesto quando leio numa matéria que tenho três filhos da união com Orlando Morais. Não é união. É casamento. Foi a primeira e única vez em que me casei. Ele também. Fomos ao cartório", diz com o semblante sério. Esse lado leoa que mostra as garras para cuidar da prole e defender o parceiro também vem à tona quando o assunto é ela mesma. Gloria Maria Claudia Pires de Morais não faz nada que não queira. Na balança, por exemplo, não sobe há anos: "Acho bobagem essa neura que as pessoas têm em relação ao peso. Percebo pelas minhas roupas se engordei ou não. Aí, é só fechar a boca por alguns dias que o problema se resolve". No estúdio, se recusa a pintar os olhos com sombra marrom, porque sabe que a cor não vai valorizá-la. Da mesma forma, rejeita a chapinha nos cabelos, alegando que já são suficientemente lisos. Com reflexos mais claros do que o castanho-escuro natural, os fios que se tornaram uma das marcas registradas da atriz realmente impressionam. São fartos e densos. Para mantê-los, lava com xampu sem sal da Mahogany e passa condicionador da Vizcaya. Às vezes aplica máscara de tratamento para fios tingidos da Kérastase ou da Lancôme. Vaidosa, cuida da pele com disposição. Todas as manhãs limpa o rosto com mousse da marca Caudalíe. Ao redor dos olhos aplica o creme Renew, da Avon. No rosto usa um creme de tratamento prescrito pela dermatologista Lucy Magalhães e filtro solar Helioblock 40. À noite, depois de remover toda a maquiagem utilizada nas gravações, passa um creme com agente clareador. De maquiagem ela também gosta, em especial do pó bronzant da Guerlain e dos lápis para sobrancelha da Helena Rubinstein. Adora perfumes a ponto de utilizá-los na composição das personagens. Na primeira fase de Júlia, escolheu uma essência à base de patchouli da Body Shop. Agora passou para Eau Dynamisante, da Clarins. "A fragrância suave me transporta para uma atmosfera romântica", afirma. Em casa pode usar India Bravo, da marca Comptoir Sud Pacifique, Omnia, da Bvlgari, ou Tender Touch, da Burberry. "Depende do humor. Sou meio camaleoa e eles me imbuem de determinados estados de espírito: às vezes sexy, misteriosa, tranqüila...", enumera. A relação com as roupas é mais pragmática. "Só uso o que gosto. Não me preocupo com o que está na moda e sei exatamente o que fica bem em mim", afirma. Tem três peças preferidas: camisas ("São práticas e alongam minha silhueta"), cardigãs ("Uso no inverno e no verão") e pashminas, ("Adoro me envolver nelas. Sinto-me sensual e aconchegada"). Em festas adota vestidos de alças finas, que valorizam o colo.Só que sair à noite não consta de sua lista de programas prediletos. Há pouco redescobriu um antigo prazer: acomodar-se em frente ao aparelho de TV para assistir a todas as novelas, principalmente a dela, claro. Ela mesma se espanta com a afirmação. "Vejo Belíssima com o mesmo entusiamo que tinha em relação a Dancin' Days. Havia anos que isso não acontecia. A história é tão boa que fico ansiosa para receber uma nova leva de capítulos e então poder descobrir o que vai rolar", conta, deixando claro que guardou a melhor surpresa para o final: nossa estrela é uma mulher que sabe ser feliz em qualquer papel. janeiro 2006

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