sábado, 27 de outubro de 2007

Capa Gloria Pires Istoegente 10/04/2006


































Capa Heroína na tela e em casa Protagonista de Belíssima, Glória Pires é aplaudida por 3 milhões de espectadores na comédia Se eu fosse você, concilia a carreira com os quatro filhos e o marido, Orlando Morais, conta como superou dois abortos e diz que chorou quatro dias quando a filha Cleo foi morar sozinha
texto: Mariana Kalil fotos: Leandro Pimentel

Ela está casada há 19 anos com o músico Orlando Morais, com quem tem três filhos – Antônia, 13 anos, Ana, 6, e Bento, 1 ano e seis meses. É também mãe de Cleo Pires, de 23 anos, do casamento com o cantor Fábio Júnior
Um dia intenso de gravação da novela Belíssima nos estúdios do Projac, na Rede Globo, no Rio, não tira o fôlego de Glória Pires nem na hora em que abre a porta de casa e encontra quase tudo fora do lugar. “Há dias em que parece que passou um vendaval em casa”, diz ela. “Tem sapato na sala, copo no banheiro, caderno dentro do armário, roupas que sumiram, maquiagem revirada.” Pouco importa para a super-mãe de 42 anos de idade – 37 deles dedicados à arte de dar forma e alma a 32 personagens de novelas, filmes e minisséries. A prioridade é beijar, abraçar, saber tudo sobre a rotina de sua numerosa família e, se sobrar tempo, abrir um livro antes de dormir. “Hoje tenho mais maturidade para lidar com isso”, minimiza. Com simplicidade e quilometragem para criar filhos de quatro diferentes faixas etárias, a atriz transfere para segundo plano a complexa realidade de administrar uma casa cheia. “Hoje consigo fazer vista grossa para essas coisas e realmente ir no foco da minha atenção, que é o Orlando e as crianças. Posso privilegiar meus filhos sem medo. O resto a gente dá um jeito. Poder estar com eles é o que realmente me traz tranqüilidade e segurança”, resume.

Glória vive cenas de um novo capítulo. Após uma estratégica retirada de cena de três anos para viver apenas da luz, da paz e da terra da fazenda em Goiânia - ao lado do marido, o músico Orlando Morais, 44 –, ela experimenta o tão desejado equilíbrio para administrar sem percalços profissão e família. Em Goiânia, a mãe da atriz Cleo Pires, de 23 anos, de Antônia, 13, de Ana, 6, e de Bento, de 1 ano e meio, redescobriu-se, reavaliou valores, reinventou-se. “Tive a sensação de que o tempo parou”, explica. “E isso não trouxe angústia, pelo contrário. Foi regenerador. Foi importantíssimo para eu poder estar aqui hoje, com jogo de cintura para lidar com a família e com o trabalho. Eu me curei em Goiânia.” Cura neste caso significa o aprendizado adquirido para dirigir sua vida sem angústias. “A questão do tempo sempre foi uma coisa complicada para mim. Essa utilização do tempo, que é tão curto, tão esprimido”, diz. O entendimento de que compromissos aparentemente irremediáveis existem tanto na profissão quanto na vida pessoal lhe deram serenidade para saber priorizá-los sem remorso.

Uma dessas prioridades é o caçula Bento, que veio concluir um desejo acalentado desde o nascimento da primogênita Cleo: ter quatro filhos. “Por que quatro?”, provoca ela, com aquele largo sorriso que dispensa apresentações. “Porque sempre achei quatro um número bonito”, responde. Bento nasceu em um momento de paz na vida de Glória Pires. A gravidez não teve nada de planejada. Nenhuma das quatro, aliás, foi assim. “Nossos filhos não são planejados, mas desejados. São eles que escolhem a hora de chegar.” É uma crença que, de certa forma, serve de alento para os dois abortos espontâneos sofridos antes da gravidez do caçula – um golpe que ainda hoje Glória acusa com o olhar mareado. “Ficamos com muito receio, frustrados, com medo”, confessa. “Mesmo que aquele ser dentro de você ainda não tenha forma, você cria uma série de expectativas. Imagina o rosto, o quarto, a roupinha. Então, a hora da perda é terrível, um negócio complicadíssimo.” A chegada do filho veio sucedida de uma visita ao Mosteiro de São Bento, localizado no alto de uma colina em Brasília. Ainda abalada pela dupla perda, Glória dedicou alguns minutos para uma conversa particular com São Bento. “Mas não pedi nada”, apressa-se em explicar. “Aliás, nunca fui de pedir nada em oração. Acredito que o que tem que acontecer, acontece. Naquela conversa, apenas me coloquei à disposição Dele para que, se estivesse na nossa história ter mais um filho – e se ele fosse homem –, se chamaria Bento.” Passados cinco meses, durante uma ultra-sonografia de rotina para avaliar o estado do bebê, recebeu do médico a notícia. “É menino homem, viu?”, revelou ele. “Hein?!”, retrucou, Glória, incrédula. “É o quê? É menino?”, ela insistiu. Orlando recorda cada detalhe da cena. “Foi uma loucura, realmente”, admite.“Um misto de contentamento, de agradecimento por merecer ter mais um filho e também por saber que era homem. É bacana porque, após três meninas, Bento chegou para mudar as brincadeiras e trazer uma nova coreografia para nossa casa. Ele movimenta o ambiente. Veio para arrebentar.”


O casamento de 19 anos com Orlando Morais serve de sustentação para a atriz. Orlando é o marido, o amante, o companheiro, o pai que guia seus quatro filhos, a voz e a opinião que garantem serenidade à atriz. “Um cara de percepção incrível”, observa ela. “A pessoa em quem mais confio para me orientar. É a ele que procuro, é com ele que me abro.” Coube a ele exercer o difícil papel de mediador entre o grito de independência da primogênita Cleo e o receio de Glória em aceitá-lo. Orlando resolveu com Cleo os detalhes do apartamento que serviria como a emblemática passagem da atriz para a vida adulta. Glória jamais se opôs ao bater asas da filha – “crio meus filhos para serem independentes” –, mas não nega a aguda dor de mãe experimentada. “Foi um baque”, admite. Senti um corte, senti medo e saudade, tudo misturado. Chorei quatro dias, fiquei mal. O que vinha à minha cabeça era: ‘Será que eu ensinei o suficiente? Será que ela entendeu tudo? Será que ela vai saber se virar?’.” Sessões de chakroterapia ajudaram a aliviar o sofrimento. “Deu uma equilibrada”, sorri. “Acabei digerindo bem a história.” É com orgulho que assiste à explosão da filha na opção de perpetuar o nome da família na profissão. Cleo, segundo Glória, manteve o que considera essencial com a chegada irremediável da fama. “Manteve as verdades e os prazeres dela. Convive naturalmente com o sucesso, o que leva Orlando e eu a perceber que fizemos um bom trabalho”, avalia. Lembra o boato disseminado há oito anos – de que teria tentado suicídio após descobrir um suposto caso de amor entre o marido e a filha – para celebrar com mais entusiasmo ainda a trajetória ascendente da primogênita. “Nossa união foi fundamental durante aquela crise horrorosa, um tsunami que não tinha nada a ver conosco. Orlando e Cleo sofreram muito ao serem julgados por algo que não aconteceu. Mas, graças a Deus, passou e estamos inteiros, felizes e com nossa filha encaminhada, honrando o nome dela.”
Glória e Orlando são cúmplices na doutrina que rege a educação da prole. Tanto para ela como para o marido, não existe convivência sem diálogo. O “não admito, filho meu não faz isso” está proibido dentro de casa. Glória se abre com os filhos e não teme exibir suas próprias fragilidades. “É como se o seu filho não pudesse ter intimidade e proximidade com você porque acabaria descobrindo que você é humano, é fraco e também comete erros”, observa. Nos últimos tempos, só tem experimentado acertos. Ela volta à cena para mostrar que uma atriz veterana está autorizada, sim, a se reinventar. No horário nobre da Rede Globo, dá vida a Júlia Assumpção, uma empresária que utiliza o talento da artista para se ajustar a variadas nuanças em uma trama que se transforma a cada capítulo. “Fiz Júlia Assumpção para ela”, declara o autor Silvio de Abreu. “Glória não deixa escapar nenhuma emoção ou detalhe que eu tenha imaginado. Sabe como pouquíssimas atrizes dissecar e elaborar um personagem em toda sua complexidade.” Em cartaz no cinema com Se Eu Fosse Você, supre o sonho antigo de interpretar um personagem masculino. O filme dirigido por Daniel Filho apresenta a atriz como Helena, uma professora de música que troca de corpo com o marido após sucessivas discussões. É um fenômeno de bilheteria: mais de 3 milhões de espectadores em três meses de exibição. Tanto o filme como a novela marcam um feito inédito na trajetória da atriz. É a primeira vez que ela contracena com o ator Tony Ramos – neste caso, no cinema e na tevê – e atua em uma novela de Silvio de Abreu. “É...”, reflete, intercalando uma breve pausa sobre o balanço da vida e da carreira. “Estou em um momento de várias primeiras vezes”, sorri

Estilo e produção: Márcia MaiaBeleza: Ronald PimentelAgradecimentos: Copacabana Palace, Animale, Carlos Tufvesson, A-Teen, Uma, Lita Mortari, Tessuti. Jóias Lídice Caldas e H.Stern

Um comentário:

Ruth disse...

Glória vc é lindíssima!