Capa Criativa maio 2002 Gloria Pires

Mil e uma glórias
A atriz que atrai multidões para a frente da TV é também uma supermãe, mulher apaixonada e um show de simpatia. Ela é a Glória!
Iara BidermanFotos Rodrigo Lopes


Sabe aquele tipo de mulher sem frescura? É a Glória. Sorridente, relaxada, simpática, ela fez duas cansativas sessões de fotos seguidas, sem estressar um só minuto. Chilique de celebridade? Nada a ver com ela. Profissional até a raiz de seus famosos cabelos, que agora estão repicados e com reflexos dourados, deixou todos que estavam fazendo esta capa de Criativa – do fotógrafo ao motorista que a levou ao estúdio - super à vontade. Quando ficou mais calada, logo se desculpou: "Ah, se eu começo a ficar mal-humorada tem algum motivo. Estou com fome! Vamos comer?". Comeu de pé, junto com todo mundo. E pronto: as covinhas logo voltaram a seu rosto sorridente. Para quem não a conhecia, foi uma surpresa. Afinal, aquela moça tão na boa é uma grande estrela.
Glória Pires é superpoderosa atriz de TV. Contar com seu nome no elenco é garantia, além da atuação impecável, de muitíssimos pontos no Ibope. Longe das novelas desde 1998, quando fez Suave Veneno, de Aguinaldo Silva, ela está de volta, gloriosa, no papel de Júlia Moreno, a jornalista decidida e apaixonada da novela Desejos de Mulher.
A escolha de Glória para estrelar a novela das 7, ao lado de Regina Duarte, foi considerada estratégica pela imprensa. Com ela no elenco, a TV Globo quer levar a audiência do horário às alturas. Como a maioria de seus colegas, prefere não falar em dinheiro, mas reconhece que tem privilégios, sim. "Muitos! Ter 38 anos, estar completando 30 de carreira e fazer o que eu gosto só confirma isso".
Glória Pires no papel de Marisa, em Dancing Days (1978)



Reportagens
Mil e uma glórias
De patinho feio a cisne
Glória Pires é típica "cria" da TV. Ela não começou no teatro e, até hoje, nunca encenou uma peça. Nada que a perturbe: "Acho que o conceito de teatro é muito amplo e ele se manifesta em veículos distintos". Seu nome é prova de que, não basta um rostinho bonito para fazer sucesso na TV. Se contasse apenas sua beleza fora dos padrões convencionais, nada teria acontecido. No primeiro teste que fez para uma novela na TV Globo, em 1971, foi reprovada por não ser bonita. Ironia: quem fez o teste foi Daniel Filho, o mesmo diretor que a lançou para o estrelato na novela Dancing Days. Daniel estava procurando uma atriz-mirim para a novela Primeiro Amor e disse para Glória que ela não servia para o papel porque não era "bonitinha". Poderia ter sido um golpe e tanto para uma menina de apenas 8 anos. Mas Glória não acusou: engoliu o choro na frente do diretor. "Não sou de chorar por leite derramado". Deixou para 'desabar' depois, em casa, com os pais. Foi só um desabafo. A menina de personalidade forte e segura do que queria não desanimou: "Posso não ser linda, mas sei que tenho talento". E foi à luta. "Eu falava: não vou estudar outra coisa, vou ser atriz. Se não der certo e eu tiver de morar embaixo da ponte, paciência. É onde vou morar. Mas vou ser atriz".
Tanta determinação merece recompensa, que veio alguns anos depois. Quando Glória foi fazer o teste para a novela Dancing Days, em 1978, chegou ao local onde seriam feitos os testes, olhou a multidão ao redor e pensou: "Não vai dar". Mas deu. E a vitória ainda teve um sabor muito especial: o mesmo Daniel Filho que a tinha reprovado antes, a escolheu entre 200 meninas, para fazer o papel de Marisa, a adolescente rebelde filha de Sônia Braga na novela Dancing Days. Foi um marco na história da TV e a personagem fez de Glória, aos 14 anos, um sucesso nacional.
O diretor da novela Desejos de Mulher, Dennis Carvalho, acha que, além do enorme talento, Glória tem outras características que fazem dela uma estrela tão querida pelo público. "Ela tem uma identificação com a mulher brasileira, é morena (quase uma índia linda), ela é uma boa mãe e uma esposa apaixonada. Tudo isso o público, mesmo que inconscientemente, adora e se identifica", diz o diretor.