domingo, 18 de novembro de 2007

CAPA REVISTA CLAUDIA AGOSTO 2005



Unanimidade

Supermãe, atriz consagrada, Glória Pires é uma mulher duplamente realizada. Tem tanta empatia com o público que garante às novelas IBOPE nas alturas. O que a torna tão especial? Ela representa o ideal de toda brasileira
por Marlene Duarte fotos Nana Moraes

Glória Pires está de volta à TV. Após um jejum de três anos, retomou a carreira com gás total. Já começou a gravar Belíssima, de Silvio de Abreu,que estréia no horário nobre da Globo em novembro.Vai interpretar uma empresária, dona da grife de lingerie que dá nome à novela. Prestes a completar 42 anos - faz aniversário em 23 de agosto -, querida pelo público, estimada pelos colegas e respeitada pela crítica, ela é um dos trunfos da casa na guerra pela audiência.Tanto que faz parte do seleto time de estrelas que abrem mão de contrato fixo. Os cachês que recebe por participação especial, que ultrapassariam a cifra de 1 milhão, como se comenta pelos bastidores, permitem que selecione papéis e fuja do ritmo frenético, que obriga os atores a emendar os trabalhos. Ela está em outra. Casada há 18 anos com o músico Orlando Morais, mãe de Cléo, 22 anos (da união com Fábio Jr.),Antônia, 12,Ana, 5, e Bento, 10 meses, Glória Maria Cláudia Pires de Moraes prefere administrar a casa e cuidar da prole à moda antiga.Faz questão de reunir todos à mesa pelo menos uma vez por dia. Gosta dos afazeres domésticos, de bordar e de pintar porcelana. Mesmo após uma madrugada de trabalho, acorda cedo para pentear os cabelos de Ana antes da escola. Embora conte com a ajuda de uma babá, duas cozinheiras e um copeiro, supervisiona cada detalhe. "Acredito que os filhos são mais influenciados pelas atitudes do que pelas palavras", diz. Não é discurso. De perto, Glória parece mesmo gente como a gente. Ao fim da sessão de fotos para a capa de CLAUDIA, ela deixa o estúdio preocupada com a festa de aniversário de Ana. Já em casa - um imóvel na aristocrática encosta do Joá, no Rio de Janeiro -, interrompe a entrevista sempre que as crianças exigem sua atenção. A delicadeza no trato com os empregados também salta aos olhos. "É a patroa mais paciente que já tive", afirma Édson, o copeiro que nos serve o almoço.
À mesa, onde continuamos a conversa, aproveito para tentar compreender o magnetismo dessa mulher que parece tão normal... Carinhosa, organizada, vaidosa, religiosa, Glória é uma mulher intensa. Talvez por isso faça tão bem qualquer papel que lhe caia nas mãos. "É uma atriz excepcional, um monstro raro como a Fernanda Montenegro", derrama-se o amigo Gilberto Braga. Foi ele quem criou para ela a inescrupulosa Maria de Fátima, de Vale Tudo (1988), que virou sinônimo de mau-caráter na boca do povo. O diretor Daniel Filho é outro que não poupa elogios: Ela foi agraciada com talento, já nasceu assim". Ele e Gilberto são os responsáveis pelo primeiro grande sucesso da atriz, a Marisa, de Dancin'Days (1978). Glória tinha 14 anos, já havia participado de novelas, entre elas Selva de Pedra (1972), mas nunca em papéis de destaque. Atuava também em programas de humor com o pai, o comediante Antônio Carlos. Ele a convenceu a fazer outro teste com Daniel Filho. "Não queria ir porque, sete anos antes, ele havia me rejeitado. Fiquei mal, chorei demais", lembra. Daniel dá sua versão: "A Glória era muito menina, a história foi mais séria para ela do que para mim. Depois, fez um teste extraordinário, ganhou o papel em Dancin'Days e entrou para a história da televisão brasileira".
Os anos passaram, a mágoa amainou e a relação de Glória e Daniel só deu bons frutos. A mudança para o Rio de Janeiro, após mais de dois anos em Goiás, teve o dedo dele. "Minha idéia era passar as férias aqui. Daí o Daniel me convidou para fazer um filme e topei na hora. Não havia nem roteiro, mas confio demais nele", revela. O diretor devolve os afagos. Tenho dificuldades em não pensar nela para um papel. Queria alguém que fosse engraçada sem excessos. E ela é assim. Adoro." O filme, Se Eu Fosse Você, que ainda não tem data para estrear, foi rodado em 25 dias e conta a história de um casal que amanhece com papéis, trocados. "Um é obrigado a se colocar no lugar do outro. Foi um exercício maravilhoso", afirma a atriz, que, para o trabalho, clareou as famosas madeixas negras. Pela primeira vez, contracenou com Tony Ramos, com quem também fará par na produção global. "Rolou de cara afinidade e confiança muito grandes", diz Glória.
O cinema é uma das suas paixões. Até agora, ela já atuou em sete longas, entre eles Índia, a Filha do Sol (1982) e O Quatrilho (1996), ambos de Fábio Barreto (este último indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro), e o mais recente, A Partilha (2001), de Daniel Filho. Continua querendo mais. "É um trabalho artesanal que dá um resultado eterno. Não é datado como a televisão", afirma. Conversando com Daniel, chegou à conclusão de que deve investir em projetos que revivam artistas do passado, como as cantoras da era do rádio. "Sem falar de outras personagens femininas que gostaria de interpretar, como Carmen Miranda e Cora Coralina." De teatro, admite não gostar - sem culpa. "Acho legal o trabalho de preparação para o palco, só que, para fazer qualquer coisa na vida, é preciso ter vontade. Todas as vezes que fiz algo por obrigação, me dei mal. Por isso, nem sequer tentei o teatro."
Vontade para se dedicar à TV, em compensação, nunca faltou. Em quase quatro décadas de carreira, contabiliza atuações memoráveis, como a Zuca, de Cabocla (1979), as gêmeas Ruth e Raquel, de Mulheres de Areia (1993), e a protagonista da minissérie Memorial de Maria Moura (1994). O encanto começou muito cedo. Glória pisou em um estúdio pela primeira vez aos 4 anos. Lembra que ficou fascinada pelos figurinos e cenários. Chegou de mãos dadas com o pai, com quem aprendeu a amar a profissão. "Ele foi a minha primeira grande referência", garante. Orlando emenda: "Ela tem uma intuição ancestral na hora de interpretar que certamente vem dele".
A morte de Antônio Carlos, no começo deste ano, foi um baque para Glória. "Em momentos assim, você coloca em xeque tudo em que acredita, a religião que você segue, tudo", confessa a atriz. Ela já tinha perdido a mãe havia 12 anos. "Sempre pensei que, quando ela morresse, eu morreria também. Achava que não conseguiria gerenciar a minha vida sozinha. Não foi nada fácil ver meu pai sem a companheira de uma vida." Na época, Antônio Carlos já sofria do mal de Parkinson. "Eu e minha irmã ficamos muito abaladas com a doença dele. Acredito que ninguém recebe um fardo se não tiver condições de carregá-lo. Só nos resta descobrir como." Nesse momento, o lado religioso, pouco conhecido do público, aparece com força. Ela explica que não segue nenhuma religião, mas reza sempre que pode. "Creio na energia da oração e procuro vivenciá-la na prática." Toda quarta-feira, quem estiver na casa de Glória Pires e Orlando Morais, seja no Rio de Janeiro, seja em Goiás, se junta à família para a leitura do Evangelho, seguida de uma sessão de orações. A filha Antônia, de brincadeira, costuma espalhar por aí que a mãe é uma rezadeira. E pão-dura. "Ela só compra o que é necessário e tem preço bom. É tão prática que dá nos nervos", reclama a pré-adolescente.
Glória também conquistou o bem merecido rótulo de supermãe. "Todo mundo sabe disso", diz Cléo, a primogênita que herdou o talento materno, debutou na TV no horário das 8 e, aos poucos, se transforma na mais nova estrela da família. "Ela me deu uma formação sólida, que é a base para a minha vida e a minha carreira." Este ano, as duas se separaram: a moça achou que era hora de morar sozinha. "Mas estamos sempre juntas", avisa. A admiração é mútua. "A Cléo é muito corajosa. Assim como eu, usa o que vem de dentro dela para interpretar", derrete-se a mãe coruja. Uma experiência traumática a aproximou ainda mais dos filhos. Em 1998, o boato de que teria tentado suicídio após descobrir um suposto caso de amor entre Orlando e Cléo fez com que a atriz embarcasse com a família para um exílio forçado em Los Angeles, voltasse as atenções para a vida do clã e repensasse os planos para o futuro. Depois disso, ainda atuou algumas vezes na TV e no cinema até trocar os estúdios pela paz do campo. Durante quase três anos, os Morais se dividiram entre um apartamento em Goiânia e a fazenda da família dela, nos arredores da cidade, longe dos flashes e do tititi. Para Glória, o período de retiro proporcionou grandes conquistas no plano pessoal, como tempo para prazeres banais. "Lá, fiz coisas até então impensáveis, como dormir à tarde e respeitar os 40 dias do pós-parto." E de parto ela entende. Já passou por quatro - o primeiro aos 19 anos e o último aos 41. Antes de engravidar de Bento, sofreu dois abortos espontâneos. "Consegui muito mais do que imaginei na carreira e na vida. Me sinto presenteada", comemora a atriz, afirmando que, com os quatro filhos, encerrou o ciclo produtivo. Pelo menos esse.
agosto de 2005
3Glória também conquistou o bem merecido rótulo de supermãe. "Todo mundo sabe disso", diz Cléo, a primogênita que herdou o talento materno, debutou na TV no horário das 8 e, aos poucos, se transforma na mais nova estrela da família. "Ela me deu uma formação sólida, que é a base para a minha vida e a minha carreira." Este ano, as duas se separaram: a moça achou que era hora de morar sozinha. "Mas estamos sempre juntas", avisa. A admiração é mútua. "A Cléo é muito corajosa. Assim como eu, usa o que vem de dentro dela para interpretar", derrete-se a mãe coruja. Uma experiência traumática a aproximou ainda mais dos filhos. Em 1998, o boato de que teria tentado suicídio após descobrir um suposto caso de amor entre Orlando e Cléo fez com que a atriz embarcasse com a família para um exílio forçado em Los Angeles, voltasse as atenções para a vida do clã e repensasse os planos para o futuro. Depois disso, ainda atuou algumas vezes na TV e no cinema até trocar os estúdios pela paz do campo. Durante quase três anos, os Morais se dividiram entre um apartamento em Goiânia e a fazenda da família dela, nos arredores da cidade, longe dos flashes e do tititi. Para Glória, o período de retiro proporcionou grandes conquistas no plano pessoal, como tempo para prazeres banais. "Lá, fiz coisas até então impensáveis, como dormir à tarde e respeitar os 40 dias do pós-parto." E de parto ela entende. Já passou por quatro - o primeiro aos 19 anos e o último aos 41. Antes de engravidar de Bento, sofreu dois abortos espontâneos. "Consegui muito mais do que imaginei na carreira e na vida. Me sinto presenteada", comemora a atriz, afirmando que, com os quatro filhos, encerrou o ciclo produtivo. Pelo menos esse.

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