Vida de Lula será uma superprodução
Com orçamento de R$ 12,5 milhões, o filme terá pelo menos quatro Lulas e 3.500 figurantes
Eliane Brum
Com orçamento de R$ 12,5 milhões, o filme terá pelo menos quatro Lulas e 3.500 figurantes
Eliane Brum
Para empreender a travessia de Caetés, no sertão pernambucano, para São Paulo, a mãe de Lula foi obrigada a vender até os santos e os retratos de família antes de embarcar no pau-de-arara com os filhos. Agora, essa história vai virar um filme orçado em R$ 12,5 milhões – uma superprodução para os padrões brasileiros, com 3.500 figurantes. Quase um terço já foi captado com empresas privadas brasileiras. O produtor Luiz Carlos Barreto busca financiamento internacional com a família Constantini, argentina, e com a Paramount, entre outros possíveis investidores. As filmagens, dirigidas por Fábio Barreto, começam em janeiro. E o lançamento – simultâneo em capitais da América Latina para aproveitar a popularidade de Lula como liderança continental – está previsto para o final de 2009. Outros presidentes, como Jango e JK, foram contemplados em documentários e até uma minissérie. Mas Lula será o primeiro a ter sua trajetória contada em um longa de ficção.
Mas não só. Se o cronograma, atrasado várias vezes, for cumprido, Lula vai assistir à sua história na tela do cinema do Palácio da Alvorada, ainda com a faixa de presidente da República. Se a crise internacional não atrapalhar, será um momento apoteótico para alguém que estreou na vida esperando por uma parteira que, muito gorda, caiu do cavalo antes de conseguir atender ao chamado de dona Lindu.
O filme inicia com a partida de Aristides, o pai de Lula, para São Paulo, em 1945. E termina com a morte de sua mãe, Lindu, em 1980. Ao empreender a migração, Aristides deixou no sertão a mulher com a barriga espichada por oito meses de gestação e uma escadinha de filhos. No ventre de Lindu está Lula. Ele só vai conviver com o pai a partir dos seis anos, quando a mãe migrou para Santos e a família descobriu que Aristides tinha outra família, formada com dona Mocinha, uma adolescente que ele carregou já de Caetés.
Na campanha de 2002, Lula chorou ao falar do pai na gravação de um programa para o horário eleitoral em que contava a história de sua vida. Ele lembrava que o pai lhe negou o sorvete que dava aos irmãos, dizendo: “Você não sabe chupar sorvete”. A cena não foi ao ar por ser considerada muito emotiva.
Aristides era um homem violento, que brutalizou a família até Lindu conseguir reunir forças para deixá-lo. Quando morreu de alcoolismo, em 1978, foi enterrado como indigente. Lula liderava a greve da Scania. Entre as duas mulheres, Aristides deixou 25 filhos. Em entrevista a Época, em 2002, Lula afirmou: “Hoje, eu perdôo meu pai. Valeu o espermatozóide que me gerou”.
Lourdes, a primeira mulher de Lula, terá o rosto de Cleo Pires. São os dois nomes confirmados no elenco. Lourdes morreu de parto, aos sete meses de gestação do primeiro filho de Lula. No velório, conforme parentes contaram à Época, o chão da casa humilde afundou com o peso do caixão. Era mais uma cena impressionante em uma trajetória que contém todas as mazelas crônicas do país.
Baseado no livro Lula: o filho do Brasil, de Denise Paraná, o filme termina antes da criação do PT. Quando a mãe morreu, Lula já era líder sindical no ABC paulista. Estava preso no Dops. Foi liberado pelo delegado Romeu Tuma para comparecer ao enterro. Dona Lindu morreu de câncer no útero. Com vergonha de se mostrar a um médico, o diagnóstico chegou tarde demais. O filme apenas aponta a futura glória do filho de Lindu.